A diversidade russa que encanta!

A diversidade russa que encanta!

13.07.2018

Com o maior evento esportivo do mundo sendo realizado na Rússia, o país ganha ainda mais visibilidade na mídia e entre a população ocidental, que parece ainda ter uma infinidade de dúvidas sobre a região. Por isso, conversamos com Larlecianne Piccolli, 35 anos, Mestre em Estudos Estratégicos Internacionais e Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Estudos Estratégicos Internacionais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que morou na Rússia por um ano. A pesquisadora relata sua experiência no país, que visitou outras duas vezes além do intercâmbio, sendo recentemente em 2017.

 

  1. PERSOL - O que te levou a morar na Rússia?

Larlecianne - Meu intercâmbio foi meu presente de 15 anos! A ideia era aprender um novo idioma e ter uma experiência intercultural, preferencialmente em um país insólito, no sentido de não ser um destino habitual de estudantes de intercâmbio. Então a Rússia apareceu como primeira opção, era a oportunidade de descobrir e aprender sobre um país que aos olhos do Ocidente era (e ainda o é) tão misterioso – muito por conta da dicotomia estabelecida pela Guerra Fria e a oposição capitalismo x socialismo, mesmo já tendo passado quase 10 anos do colapso da URSS. A Rússia também veio como opção por conta do histórico de ballet clássico que tinha, dançava desde os 03 anos de idade, e me parecia um sonho poder conhecer o país dos grandes ídolos e o Ballet Bolshoi!

 

  1. PERSOL - Quais as maiores diferenças, culturalmente falando, em relação ao Brasil?

Larlecianne - Acredito que principal barreira a ser superada, para conseguir compreender as idiossincrasias do país, foi o idioma. O idioma russo é muito complexo, a começar pelo alfabeto cirílico e na sequência pelos aspectos gramaticais da língua. Mesmo tendo estudado por alguns meses antes de ir para a Rússia, o choque do idioma foi o mais forte para mim. Foram cerca de 03 meses para que eu conseguisse me comunicar efetivamente.

Diferentemente do que a maioria imagina, os russos são muito receptivos e calorosos! E foi essa receptividade da família Klimenko que me ajudou a aprender os novos hábitos e a cultura a qual eu fui me adequando dia após dia. Dos hábitos cotidianos como tirar o calçado ao entrar em casa (e em qualquer casa que visites), de levar sua própria sacola ao supermercado; àqueles supersticiosos como o de não assoviar dentro de casa (dizem que o dinheiro vai embora e nunca mais volta!) que levo comigo até hoje! Nunca ir a casa de alguém sem levar doces ou flores, e claro, tomar muito chá preto! As questões religiosas (a maioria dos russos são ortodoxos), e então as diferenças na celebração do Natal e da Páscoa. As idas à datcha (casa de campo) e os banhos de sauna acompanhados por mergulhos em água gelada! E claro àquelas que mais me chamaram atenção à época como aulas de Treinamento Militar com orientações sobre como proceder em ataque nuclear, por exemplo!

Há muitas similaridades entre brasileiros e russos. As reuniões familiares e a atenção aos idosos e às histórias por eles contadas – guardadas as devidas proporções – sobre sobre a Grande Guerra Patriótica – é assim que eles chamam a II Guerra Mundial, me remeteu muito aos domingos em família no Brasil ouvindo as histórias sobre a vinda de minha família da Itália para o Brasil.

Mesa farta, sempre oferecendo o que há de melhor e te fazendo sentir à vontade a quilômetros de distância de casa. Mesmo morando em um apartamento de um quarto e com grandes dificuldades financeiras, minha família russa (sim, chamo eles de pai, mãe, irmãos, avós!) me recebeu de braços abertos e me ensinou o que há de mais lindo e puro em uma família em qualquer lugar do mundo: любовь (lyubov) – amor!

 

  1. PERSOL - Como foi a tua adaptação à Rússia?

Larlecianne - Os primeiros 10 dias foram bastantes difíceis. Somado a questão do idioma, morei na Rússia em um momento de instabilidade no sul do país por conta do início da Segunda Guerra da Tchetchênia, então havia muito medo que os ataques terroristas se espalhassem pelo país e atingissem a reunião onde morávamos. Estar em uma família russa facilitou muito minha adaptação ao país, da mesma forma que a escola e, também, os voluntários do programa de intercâmbio que não poupam esforços para te auxiliar sempre que necessário.

A parte mais difícil da adaptação foi ao frio! As temperaturas no inverno chegaram a 36 graus negativos! E nos meses de novembro, dezembro e janeiro quase não se via o sol (clareava o dia por volta das 10h e às 14h já era escuro novamente). Isso realmente faz com que tudo fique cinza, inclusive os sorrisos! Aí é de se compreender o porquê aos russos remetem um semblante frio, bravo, carregado.... Já no verão o calor e as noites brancas (escurece por volta das 23h e às 4h da manhã o sol já está alto) é outro desafio!

 

  1. PERSOL - Como é a gastronomia no país?

Larlecianne - Tem muitos pratos típicos como o borsch (sopa de beterraba), tvorog (uma espécie de queijo de só existe lá); salada russa; blinis (espécie de panqueca); pelmeni (lembra um raviolli, porém recheado de carne), smetana (creme azedo); shashlik (o churrasco russo), etc. Muita batata, grão de bico, beterraba, carne de porco, repolho, etc. Dentre as bebidas kompot (um suco feito a partir do cozimento de frutas da estação, bem doce); kvas (uma bebida fermentada de baixo teor alcoólico), e a tradicional vodka!

 

  1. PERSOL - E a arquitetura?

Larlecianne - Pegando Moscou como exemplo, a arquitetura é algo fantástico, grandiosa. Um misto de construções históricas imperiais que nos rementem à época do Império Russo e a luxuosidade dos Czares, passando pelas construções do período soviético de uma grandeza inigualável, porém que nos remetam a uma arquitetura mais fria, e chegando na modernidade dos grandes arranha-céus do novo bairro de negócios que nos remete a tudo o que há de mais moderno em termos de design. Ou seja, é uma mescla que faz da cidade um exemplar único, ímpar. As estações de metrô são um show a parte! É visita obrigatória, assim como a Praça Vermelha, o Kremlin. Sem contar os inúmeros museus que devem ser visitados para que conheçamos um pouco mais da história desse país e desse povo que tanto sofreu nas grandes Guerra Mundiais, mas que tanto conquistou em no período da URSS – um espírito de coletividade que poucos possuem, e que hoje ainda é tão estereotipada pela mídia, numa infundada “russofobia”.

 

  1. PERSOL - Qual a tua melhor recordação do país?

Larlecianne - São muitas! Mas vou resumir à Família Klimenko, minha família russa, que abriu os braços para me receber e em ensinou amar e compreender a Rússia! Dos momentos que passamos juntos, a despedida lá em 2000 e o reencontro depois de 17 anos no ano passado foram muito emocionantes! Acredito que a Copa do Mundo tenha servido como um trampolim para que a sociedade em geral se interesse mais pelo país, leia mais sobre história e política do país (bons livros e artigos!) e desmistifique muitas coisas a respeito da Rússia.

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